Texto Integral e Fotos: Maresias, I Volume, Goulart Quaresma, 1999 (páginas 101 a 105)
Nos estaleiros britânicos "James Laing" em Sunderland foi lançado ao mar a 15 de Novembro de 1902, um navio baptizado de "Yamuna" que tinha como armador a British Indian Steam Navigation.
Este navio tinha 160 metros de comprimentos, 10.606 toneladas de arqueação e era propulsionado por duas hélices que lhe conferiam uma velocidade média de 13 milhas/hora.
A sua actividade como navio misto destinava-se à carreira da Grã-Bretanha com a Índia. Posteriormente adquirido pela famosa Cunard voltou ao estaleiro construtor no sentido de ser remodelado e aumentada a sua lotação para 70 passageiros em 1ª classe (anteriormente 40) e 800 em 2ª e 3ª classes. Rebaptizado de Slavonia passou a fazer cruzeiros de Inverno no Mediterrâneo e no Verão transportava emigrantes europeus para os Estados Unidos.
Plano longitudinal do Slavonia
Após uma destas viagens zarpou de New York a 3 de Junho de 1909 com 225 tripulantes, 222 passageiros de 3ª classe e 100 de 1ª o que totalizava 597 pessoas embarcadas. O navio era comandado pelo tenente naval na reserva Arthur George Dunning e destinava-se ao porto italiano de Trieste.
Na sua rota com destino ao referido porto era suposto passar a sul do Grupo Ocidental do Arquipélago Açoriano. A pedido de diversos passageiros foi solicitado ao comandante que alterasse o rumo para que observassem a beleza das nossas ilhas. Provavelmente devido a caimento não estimado e a nevoeiro que se fazia sentir na altura, o navio cerca das 2:30 horas da madrugada do dia 10 de Junho de 1909 acabaria por encalhar próximo da povoação do Lajedo (Ilha das Flores), onde se encontra um ilhéu negro e mais alto que os restantes conhecido por Cartário (59 metros) e, logo a seguir, a ponta das Cantarinhas, que limita pelo sul uma baía bem pronunciada, de vertentes escarpadas muito arborizadas e sem bons fundos.
Local assinalado a vermelho
Lançado o S.O.S., foi captado pelo paquete germânico "Prinzess Irene" e pelo "Batavia" da empresa Hamburg-Amerika Linie, que rapidamente se dirigiram ao local do naufrágio. Com a ajuda das suas próprias baleeiras e das dos outros navios entretanto chegados ao local do acidente, além de um cabo de vaivém, foi possível salvar os passageiros e tripulantes. Entretanto partiu de Ponta Delgada o rebocador Condor no sentido de safar o navio, mas a sua tentativa foi inglória. O Slavonia estava irremediavelmente perdido e perante tal situação o comandante Dunning tentou suicidar-se, mas acabou impedido pelo seu telegrafista. Conseguiram salvar alguma parte da carga que era constituída por café e cobre. Ainda hoje na ilha das Flores e noutras partes do Arquipélago Açoriano existem peças de mobiliário e utensílios do referido navio.
O Slavonia encalhado e já com a popa submersa
A 16 de Junho a companhia seguradora Lloyd's declarou a perda total do navio, embora o salvadego "Ranger", propriedade da Liverpool & Glasgow Salvage Association, enviado pela referida seguradora só tivesse chegado às Flores a 20 do mesmo mês.
A falta de faróis nos Açores, na altura, era gritante. Após o acidente chegou ao Arquipélago o navio "Berrio" comandado pelo então capitão de mar-e-guerra Schultz Xavier que vinhas inspeccionar a construção dos faróis de Lajes das Flores, Rosais e Topo em São Jorge, Ponta da Barca na Graciosa. Enfim... um atraso que pode ter causado a perda deste grande navio.
Farol da Ponta das Lajes, cuja construção só terminaria em Setembro de 1910
Os tripulantes e passageiros do Slavonia foram embarcados no navio "Batávia" que rumou a Nápoles onde os desembarcou.
Junto à costa do Lajedo ainda existem no fundo destroços do desafortunado Slavonia.
Outras Referências