O Projecto Integrado de Requalificação e Reordenamento da Frente Marítima da Cidade da Horta (RECAPE), sob a alçada da Administração dos Portos do Triângulo e do Grupo Ocidental S.A. (APTO, S.A.) e da tutela (Secretaria Regional da Economia), pretende adaptar o Porto desta cidade (o único comercial da ilha do Faial) aos novos tempos, melhorando as existentes valências de passageiros, náutica de recreio, carga a granel, contentores e pescas.
Foto: Bruno Rodrigues - Horta - Agosto 2008
Este projecto, numa primeira fase (já em execução), contempla a expansão do porto e actividades portuárias com a criação de uma nova bacia portuária a Norte. Esta nova zona destina-se a satisfazer e optimizar os requisitos do importante tráfego de passageiros inter-ilhas (actualmente a funcionar a sul). Estava prevista inicialmente a capacidade de receber navios de cruzeiro nesta bacia, o que não se irá verificar.
A construção desta nova bacia portuária, com entrada virada a sul, terá um molhe com cais acostável no bordo interior destinado a ferries, que poderão ter a capacidade de transportar, não só passageiros, mas também viaturas. A nova gare marítima também será construída neste lado da cidade, de acordo com este projecto.
O molhe de protecção, que se encontra neste momento em construção, irá assegurar as condições de tranquilidade em termos de agitação marítima e na facilidade de manobra dos navios no interior da bacia.
Foto gentilmente cedida por Luís Correia, Horta.
Planta de obra - Placard metálico - Maio 2010 - Aumentar
De acordo com o Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução de 2008 (disponível aqui: http://www.azores.gov.pt/NR/rdonlyres/7BBCB7CB-30F9-4944-A186-32A8B20A803D/0/PortoHortaSumExeFaseI.pdf), analisando os dados do projecto de Execução na página 7, facilmente constatamos o porquê deste novo cais afecto ao Molhe não receber navios de cruzeiros. De facto, este terá um comprimento útil de serviço na ordem dos 320 metros, com fundos de serviço na ordem dos -6 metros (ZH – Zero Hidrográfico), o que é aceitável para a operação de ferries, mas manifestamente pouco para a operação de navios de cruzeiros, como foi anunciado inicialmente. A grande maioria dos navios de cruzeiro de grande porte tem um calado entre os 7 e os 8 metros.
A grande diferença entre o projecto inicial (profundidades na ordem dos -12 metros) e o projecto final (profundidades na ordem dos -6 metros) ficou a dever-se ao facto do respectivo molhe agora estar muito mais próximo de terra do que antes, onde os fundos se situam a cotas mais altas.
De 2007 às declarações de Duarte Ponte em 2008, algumas coisas mudaram. O propósito de receber navios de cruzeiros ficou então adiado para a segunda fase do projecto, que pretende requalificar o porto comercial existente. Para esta fase está então previsto o aumento da profundidade para os -12 metros (ZH) do cais-molhe sul. A Horta passará então a poder receber no porto os navios que habitualmente atracam em Ponta Delgada. De recordar que a maior profundidade no Porto Comercial de Ponta Delgada ronda os -12 metros (ZH) no denominado cais 12. No entanto a Horta irá continuar a receber navios de cruzeiros num porto comercial, ao invés de centralizar essas actividades no novo cais Norte.
São já vários os navios de cruzeiro que escalam a cidade da Horta durante as épocas de reposicionamentos, sendo que a maioria fundeia ao largo do porto. Actualmente o cais-molhe do porto comercial da Horta tem uma profundidade de -7,3 metros (ZH), de acordo com a Portos dos Açores. O Seven Seas Voyager, com 7 metros de calado, foi o maior navio de cruzeiros (em comprimento) a atracar neste porto até à data. Salienta-se também a atracagem do Black Watch em 2007 (http://rotadashortencias.blogspot.com/2007/11/doca-da-horta-recebeu-maior-navio-dos.html), com 7,3 metros de calado e do Discovery, com 7,49 metros de calado. Nestes casos verificaram-se condições excepcionais para que as manobras acontecessem e os navios não tivessem que fundear ao largo, como é habitual (vento, ondulação, marés favoráveis e apoio de rebocador).
Dos -7,3 metros de profundidade actuais do molhe-cais sul para os -12 metros que se pretendem com a requalificação existe uma óbvia diferença significativa. Embora tal não esteja ainda em fase de projecto, o argumento é que para o interior das fundações do molhe-cais sul os fundos estão a cotas mais baixas, pelo que foi justificado que com o enchimento da curvatura do molhe sul na sua parte virada para o interior do porto será possível aumentar os fundos. Não há ainda estudos sobre se tal é conveniente em termos de hidrodinamismo (agitação marítima, ondulação e correntes).
O novo cais Norte vai sem dúvida responder às exigências mínimas da procura que já existem nos transportes inter-ilhas, em especial nas ilhas do Triângulo (São Jorge, Pico e Faial), trazendo consigo melhorias significativas de serviço, contrastando com o caos e falta de condições da gare de passageiros actual. No entanto são vários os que vaticinam que este poderá não responder às possíveis exigências no futuro nestas ilhas de maior tráfego de passageiros.
Quanto à melhoria de condições para o turismo de cruzeiros, não existe uma data para o arranque da segunda fase do Reordenamento do Porto da Horta, logo não sabemos quando poderá o Porto da Horta receber os grandes navios cruzeiros que actualmente fundeiam ao largo, bem como aqueles que não escalam a cidade por essa razão.
Como ficaria bem o novo e elegante Queen Elizabeth atracado no porto da Horta, capital do iatismo internacional!
ACTUALIZAÇÃO: veja também Alterações no Novo Caís Norte da Horta (2010/10/01)
Referências:
Black Watch atracado no Porto da Horta (2007)
Canal de Vídeos Azores Cruise Club - Youtube
Fotos das Obras em Curso (Ship Spotting in Faial Island)