quarta-feira, 30 de maio de 2012

Faleceu George P. Potamianos



"Faleceu esta manhã num hospital de Lisboa o armador grego George P. Potamianos.
 
Grande amigo de Portugal e admirador das nossas tradições marítimas, George Potamianos tornou-se conhecido entre nós a partir de 1976 como afretador do paquete FUNCHAL que depois adquiriu em Agosto de 1985. Em vez de levar o navio para a Grécia, fez o contrário, trouxe a família para Lisboa onde abriu um escritório e se dedicou a desenvolver a actividade de cruzeiros com grande sucesso. Empregou muitos portugueses e privilegiou sempre que possível as nossas empresas e portos. 
 
Tive a sorte de o conhecer logo em 1985 numa sessão de leilão de navios da CTM, na sede desta empresa na rua de São Julião. Ao longo dos anos acompanhei sempre o seu trabalho, cheguei a ser seu colaborador e devo-lhe muito. O seu gabinete na Avenida 24 de Julho tem as paredes repletas de fotografias de navios, muitas feitas por mim ao longo dos anos. 
 
 
George Potamianos foi um grande amigo do nosso País. Disse-me diversas vezes que se tivesse vindo para Lisboa uns anos antes teria evitado que os nossos melhores paquetes fossem para a sucata quase novos. Ainda veio a tempo de salvar o FUNCHAL e logo a seguir o INFANTE DOM HENRIQUE que reconstruiu em 1986-1988 e rebaptizou com o nome VASCO DA GAMA. Oriundo de uma antiga família grega de armadores com diversas gerações de experiência na operação de navios de passageiros, era um profundo conhecedor do mercado de navios de passageiros e dos cruzeiros e talvez o último dos grandes armadores Gregos tradicionais de paquetes. 
 
Nos últimos anos sentiu a concorrência violenta das grandes companhias de cruzeiros multinacionais que tudo têm feito para exterminar os poucos armadores independentes que ainda restam. Considerava muito injusta a utilização de mão de obra barata do terceiro mundo para tripular a frota mundial de cruzeiros e chamava aos actuais gigantes dos mares "navios esclavagistas." Resistiu enquanto pode a essa opção, o FUNCHAL chegou a ser o último navio de cruzeiros a operar no mercado internacional com uma tripulação nacional homogénea. 
 
Percebia de navios como ninguém, a bordo dos seus paquetes tratava os tripulantes pelos nomes e nada lhe dava mais prazer que pegar num navio e remodelá-lo. Foi assim que o seu e nosso FUNCHAL se manteve com sucesso todos estes anos. Vi-o comover-se ao içar a bandeira portuguesa no FUNCHAL em 2001 quando alterou o registo, do Panamá para a Madeira e me disse, com lágrimas nos olhos que agora o navio teria à popa os nomes FUNCHAL e MADEIRA por baixo. 
 
 
Além de Armador ilustre foi um homem bom, figura destacada mas discreta da comunidade ortodoxa de Lisboa, sei que ajudou muita gente a título particular. A George Potamianos devo algumas das melhores viagens da minha vida e a emoção única de ver regressar a Lisboa o VASCO DA GAMA como novo, - estava no cais a ver a chegada e ele insistiu que eu fosse o primeiro a subir a bordo assim que a escada foi colocada. 
 
Nos últimos meses passei algumas tardes à conversa no seu gabinete, contou-me histórias ligadas à sua vida de armador, descreveu-me detalhadamente as suas primeiras experiências com navios de carga antes de se estabelecer em Portugal e partilhou com entusiasmo o seu último sonho de reconstruir o FUNCHAL que queria ver transformado um "iate de luxo". Deixa à frente da Classic International Cruises os filhos Alexandros e Emilios Potamianos, a quem vinha passando o testemunho nos últimos tempos.
 
À Família Potamianos e aos seus colaboradores mais próximos nas empresas e navios ligados à Classic International Cruises apresento os meus pêsames e simpatia por esta perda tão grande. 

LUÍS MIGUEL CORREIA - 29 de Maio de 2012"


A Direcção do Azores Cruise Club agradece a Luís Miguel Correia a autorização para reprodução deste seu texto e fotos, endereçando sentidas condolências aos familiares do senhor Georgios Potamianos.

Referências adicionais:

1 comentário:

R. Souto disse...

Como se já não bastassem más noticias neste país e inclusive muitas que afectam o futuro da nossa "decrépita e definhante" marinha e indústria naval, agora ainda mais esta. Isto corre bem.. corre corre! Só desejo que os filhos do armador grego mantenham o projecto do pai.