sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Alterações no Novo Cais Norte da Horta

Texto/Opinião: Bruno Rodrigues (ACC)

Um colaborador do blogue do ACC na ilha do Faial, fez-nos chegar alguns acontecimentos interessantes relativamente ao Projecto Integrado de Requalificação e Reordenamento da Frente Marítima da Cidade da Horta (RECAPE), sob a alçada da Administração dos Portos do Triângulo e do Grupo Ocidental S.A. (APTO, S.A.) e da tutela (Secretaria Regional da Economia), um projecto aliás que já abordamos aqui no blogue em Junho. Vou aprofundar um pouco esses dados que me foram dados a conhecer.


Aquando da recente escala do navio Oriana da P&O Cruises na Horta, o jornal Faialense "INCENTIVO", em manchete do dia 20 de Agosto de 2010, anunciava que “o calado de 11,50 metros do Oriana inviabiliza a sua entrada no porto da Horta”. Sendo um navio já abordado aqui no blogue em 2 ocasiões, não é difícil perceber a incorrecção da manchete, uma vez que o calado do navio em causa é de 7,9 metros. Em relação à sua "não entrada" no porto comercial da Horta, torna-se difícil compreender como o referido jornal tencionava ver um navio de 260 metros de comprimento acostado num cais de 190 metros de comprimentos e 7,5 metros de profundidade (cais Alfa).

 Foto: Fernando Medeiros - Obras do novo Cais Norte - Horta - Setembro 2010

Esta edição do jornal "INCENTIVO" deu lugar a um comunicado de esclarecimento por parte da APTO, S.A., publicado noutro jornal local (Tribuna das Ilhas). Nesse comunicado são de alguma forma explanados os factos que acima referimos, e são também divulgadas algumas informações que ignorávamos e que aqui transcrevemos desse comunicado:

"Deve, no entanto, notar-se que a obra de Requalificação e Reordenamento da Frente Marítima da Cidade da Horta (1.ª Fase), cuja empreitada está neste momento em execução, com os complementos que lhe irão ser introduzidos, na sequência da Resolução do Conselho do Governo Regional n.º 90/2010, de 15 de Junho – nomeadamente quanto ao “rebaixamento da cota de fundação para - 8.00 ZH do Terminal Marítimo da Cidade da Horta” –, permitirá a atracação de navios com características semelhantes ao navio que a 19 de Agosto de 2010 nos visitou, uma vez que disporá de um molhe-cais de 264 metros úteis de acostagem (300 metros de comprimento de plataforma, com 36 metros de ocupação por uma rampa para operações ro-ro, roll-on/roll-off).

Foto: Fernando Medeiros - Obras do novo Cais Norte - Horta - Setembro 2010

São de saudar alterações que viabilizem a utilização do novo Cais Norte da Horta por alguns navios de cruzeiro. Entre o projecto inicial (profundidades na ordem dos -12 metros) e o projecto final (profundidades na ordem dos -6 metros) o novo Cais Norte ficará então com uma profundidade na ordem dos -8 metros. Daí a afirmar que esses -8 metros permitirão a atracagem do Oriana (exemplo utilizado pela APTO, S.A.) no Cais Norte (mais uma vez, falamos de um navio com 7,9 metros de calado), é uma imprudência e um grande risco. Nenhum comandante correrá certamente esse risco, com tão pouca distância ao fundo. Com muita pena, estamos a assistir a mais um "penso rápido" numa obra de grande importância.

 Foto gentilmente cedida por Luís Correia, Horta. 
Planta de obra - Placard metálico - Maio 2010 - Aumentar

No entanto, num exercício de bola de cristal, das 16 escalas actualmente previstas para 2011 na cidade da Horta, caso o Cais Norte estivesse pronto estaria habilitado a receber 12 dessas escalas. Qualquer dos navios em causa não teria limitações de atracagem ao nível do comprimento do cais. Quanto à profundidade, estou a considerar uma margem de segurança entre os 0,8 e 1 metros (diferença do calado do navio com a profundidade do cais), que é a prática normal em comandantes de navios de cruzeiro. Assim sendo, navios como o Discovery, Princess Danae e Athena não poderiam atracar no novo cais e teriam ancorar fora do porto.

12-03-2011 Ocean Countess (Cruise & Maritime Voyages) - Calado: 5,8 metros
17-04-2011
Discovery (Voyages of Discovery) - Calado: 7,5 metros
18-04-2011
Sea Cloud II (Noble Caledonia) - Calado: 5,3 metros
23-04-2011
Polar Star (Polar Star Expeditions) - Calado: 5,6 metros
24-04-2011
Princess Danae (Classic International Cruises) - Calado: 7,6 metros
25-04-2011
Sea Cloud II (Sea Cloud Cruises) - Calado: 5,3 metros
09-05-2011
The World (ResidenSea) - Calado: 6,9 metros
10-05-2011
Deutschland (Peter Deilmann Cruises) - Calado: 5,8 metros
18-05-2011
Clipper Odyssey (Zegrahm and Eco Expeditions) - Calado: 4,3 metros
20-05-2011
Kristina Katarina (Kristina Cruises) - Calado: 5,3 metros
23-05-2011
Kristina Katarina (Kristina Cruises) - Calado: 5,3 metros    
24&25-05-2011
Clipper Odyssey (Noble Caledonia) - Calado: 4,3 metros
05-09-2011
Princess Danae (Classic International Cruises) - Calado: 7,6 metros
19-09-2011
Athena (Classic International Cruises) - Calado: 7,6 metros
16&17-10-2011 Bremen (Hapag-Lloyd Cruises) - Calado: 4,6 metros
03-10-2011
Delphin Voyager (Delphin Kreuzfahrten) - Calado: 6,5 metros


Repito: é de saudar o rebaixamento da cota de fundação do novo Cais Norte da Horta para os -8 metros. No entanto, olhando para o projecto inicial, de um Cais Norte com profundidade de -12 metros, o que se assiste actualmente sabe a pouco. Seria muito bom para o Faial e para os Açores em geral ter um Cais Norte com -10 metros de profundidade, tendo em conta os navios de cruzeiro da actualidade. Com dois terminais de cruzeiros com qualidade nos Açores, valorizando sobremaneira o porto da Horta como porto de escala de navios de cruzeiros, a ideia de itinerários de cruzeiros envolvendo os Açores e outras regiões (Madeira, Canárias, Portugal Continental, Norte de África, Norte da Europa) teria pernas para andar. Sem oferta, não há procura, num mercado em crescimento, sedento de novidades face à massificação dos destinos nas Caraíbas e no Mediterrâneo. Vivemos num tempo de crise, é certo, mas se os investimentos são feitos, que o sejam de forma pensada e com visão de futuro, não apenas para o presente.

A título de curiosidade, com uma profundidade de -12 metros até o Queen Mary 2 poderia fazer o que nunca poderá fazer nas Portas do Mar em Ponta Delgada: atracar. Dos grandes navios de cruzeiro, este é o que tem maior calado actualmente.



Referências:

8 comentários:

FranciscoM disse...

Existem muitos condicionantes que levam ou não à atracagem no porto da Horta.

O Seven Seas Voyager com 216 metros não precisou de ancorar. Portanto o cais actual pode receber navios com mais de 200m. Em relação ao calado,navios como o Polar Star e Discovery já escalaram sem problemas o porto actual. Em relação ao futuro, só com a obra pronta é que podemos ter algumas certezas.

Bruno Rodrigues disse...

O Seven Seas Voyager tem um calado de 7 metros, e o cais actual recebeu-o já com um bom bocado fora do molhe... o bom tempo assim o permitiu, não são as condições ideais.

Em relação ao calado do Polar Star, estava errado e foi corrigido. A atracagem do Discovery poderá ter-se verificado num dia de condições especiais em termos de maré e em risco assumido pelo comandante. Fora isso provavelmente não atracaria.

O exemplos e indicações dadas são apenas isso. -8 metros de profundidade no novo cais norte é manifestamente pouco para os navios de cruzeiro que escalam actualmente os Açores.

amg disse...

olá e parabéns pelo blog, que visito pela 1ª vez.

sobre a Horta, quando lá estive de férias este Verão ouvi críticos que diziam que a melhor solução seria ter feito um outro pontão paralelo ao actual, que nasceria do Monte da Guia (o que resolveria de vez a questão da cota); disseram-me também que o actual pontão/molhe vai dificultar a entrada/saída de navios em mar alteroso, para além de ficar bastante exposto ao mar de sudeste, que é o que castiga mais aquela zona.
Como ignorante na matéria, "sinto" que algo ali não faz sentido; aparentemente a solução de ir para Norte faz sentido, mas em termos prácticos espero que tal esteja devidamente assegurado, o que não parece ser o caso quando se vê já alterações de 2m (!!) de cota inicial (parece que o objectivo real é estar a gastar dinheiro para alimentar as construtoras - aí como aqui no Continente).
cumptos

Bruno Rodrigues disse...

Caro amg,

Obrigado pela sua visita.

A sua opinião é bastante interessante e pertinente. Nada como quem trabalha nos locais diariamente (pescadores, trabalhadores do porto, etc) para perceber se as alterações serão ou não benéficas. Vamos ver se o que se está a fazer actualmente vai degradar a operacionalidade do Porto Comercial.

Quanto às alterações ao projecto, infelizmente é algum comum nas nossas obras públicas. Neste caso foi para melhor, felizmente (mais 2 metros de profundidades). Mas é a tal coisa: o que estava definido no projecto inicial eram -12 metros... enfim.

Cumprimentos e volte sempre.

Anónimo disse...

Eu de obras portuárias não entêndo nada.Mas uma coisa é certa nunca se deveria alterar o primeiro projecto que estava em curso.Segundo consta a profundidade actual é de 8-metros que no meu entênder deveria ser de 12-metros de profundidade.Outra situação a lamentar é o actual molhe que faz paralelo á marginal está muito próximo do mesmo ficando assim um Porto atrofiado que é uma pena cuja as causas estão nos custo das obras só que para são Miguel há o dinheiro em abundância em projectos faraónicos sem nenhuma justificação.Por fim o aproveitamento do quebra mar construindo uma via pedonal até á marina como alternativa á actual avenida marginal isso vai depender da força de vontade do governo.Esta obra tem que ser para o futuro e não para o presente.no que respeita a nova ga-marítima temos que ter em conta todas as iquivalências necessárias encluindo um posto dos primeiros socorros.bem hajam.

Bruno Rodrigues disse...

É curioso que em 2011 tenham atracado no porto comercial da Horta os navios Princess Danae e Discovery, que têm respectivamente 7,5m e 7,6m de calado. O calado máximo publicitado para o porto comercial da Horta é de 7,5m, ou seja, eu suponho que tenha mais qualquer coisa... Enfim, melhor assim.

Anónimo disse...

Parabens pelo blog que é mt interessante.Sem local apropriado para atracar como conseguem vir a terra tds os mts passageiros desses grnds navios e assim ajudar a economia local?

Bruno Rodrigues disse...

Caro Anónimo,

O navio assegura o transporte a terra (o chamado serviço de "tender") nalguns dos navios salva-vida.

Cumprimentos.