terça-feira, 28 de setembro de 2010

Memórias dos Açores: A Última Viagem do "Slavonia"

Texto Integral e Fotos: Maresias, I Volume, Goulart Quaresma, 1999 (páginas 101 a 105)



Nos estaleiros britânicos "James Laing" em Sunderland foi lançado ao mar a 15 de Novembro de 1902, um navio baptizado de "Yamuna" que tinha como armador a British Indian Steam Navigation.
Este navio tinha 160 metros de comprimentos, 10.606 toneladas de arqueação e era propulsionado por duas hélices que lhe conferiam uma velocidade média de 13 milhas/hora.

A sua actividade como navio misto destinava-se à carreira da Grã-Bretanha com a Índia. Posteriormente adquirido pela famosa Cunard voltou ao estaleiro construtor no sentido de ser remodelado e aumentada a sua lotação para 70 passageiros em 1ª classe (anteriormente 40) e 800 em 2ª e 3ª classes. Rebaptizado de Slavonia passou a fazer cruzeiros de Inverno no Mediterrâneo e no Verão transportava emigrantes europeus para os Estados Unidos.

Plano longitudinal do Slavonia

Após uma destas viagens zarpou de New York a 3 de Junho de 1909 com 225 tripulantes, 222 passageiros de 3ª classe e 100 de 1ª o que totalizava 597 pessoas embarcadas. O navio era comandado pelo tenente naval na reserva Arthur George Dunning e destinava-se ao porto italiano de Trieste.

Na sua rota com destino ao referido porto era suposto passar a sul do Grupo Ocidental do Arquipélago Açoriano. A pedido de diversos passageiros foi solicitado ao comandante que alterasse o rumo para que observassem a beleza das nossas ilhas. Provavelmente devido a caimento não estimado e a nevoeiro que se fazia sentir na altura, o navio cerca das 2:30 horas da madrugada do dia 10 de Junho de 1909 acabaria por encalhar próximo da povoação do Lajedo (Ilha das Flores), onde se encontra um ilhéu negro e mais alto que os restantes conhecido por Cartário (59 metros) e, logo a seguir, a ponta das Cantarinhas, que limita pelo sul uma baía bem pronunciada, de vertentes escarpadas muito arborizadas e sem bons fundos.

 Local assinalado a vermelho

Lançado o S.O.S., foi captado pelo paquete germânico "Prinzess Irene" e pelo "Batavia" da empresa Hamburg-Amerika Linie, que rapidamente se dirigiram ao local do naufrágio. Com a ajuda das suas próprias baleeiras e das dos outros navios entretanto chegados ao local do acidente, além de um cabo de vaivém, foi possível salvar os passageiros e tripulantes. Entretanto partiu de Ponta Delgada o rebocador Condor no sentido de safar o navio, mas a sua tentativa foi inglória. O Slavonia estava irremediavelmente perdido e perante tal situação o comandante Dunning tentou suicidar-se, mas acabou impedido pelo seu telegrafista. Conseguiram salvar alguma parte da carga que era constituída por café e cobre. Ainda hoje na ilha das Flores e noutras partes do Arquipélago Açoriano existem peças de mobiliário e utensílios do referido navio.

 O Slavonia encalhado e já com a popa submersa

A 16 de Junho a companhia seguradora Lloyd's declarou a perda total do navio, embora o salvadego "Ranger", propriedade da Liverpool & Glasgow Salvage Association, enviado pela referida seguradora só tivesse chegado às Flores a 20 do mesmo mês.

A falta de faróis nos Açores, na altura, era gritante. Após o acidente chegou ao Arquipélago o navio "Berrio" comandado pelo então capitão de mar-e-guerra Schultz Xavier que vinhas inspeccionar a construção dos faróis de Lajes das Flores, Rosais e Topo em São Jorge, Ponta da Barca na Graciosa. Enfim... um atraso que pode ter causado a perda deste grande navio.

 Farol da Ponta das Lajes, cuja construção só terminaria em Setembro de 1910

Os tripulantes e passageiros do Slavonia foram embarcados no navio "Batávia" que rumou a Nápoles onde os desembarcou.

Junto à costa do Lajedo ainda existem no fundo destroços do desafortunado Slavonia.


Outras Referências

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Bruno,

Excelente é o adjectivo apropriado para este artigo.
São marcos da história marítima dos Açores que a maioria das pessoas desconhece mas que graças ao ACC vão tomando conhecimento.

Bruno disse...

Caro Bruno,
Desconhecia esta historia dos nossos mares! Excelente post!
B.A.

Bruno Rodrigues disse...

Obrigado pelos vossos incentivos!