sábado, 10 de setembro de 2011

Opinião: Eduardo Cabrita

Eduardo Cabrita
Director Geral - MSC Cruzeiros

Perspectivas para o Turismo de Cruzeiros nos Açores


"Os Açores apresentam um bom potencial como destino no Turismo de Cruzeiros sendo actualmente reconhecidos como uma das maravilhas do Mundo em termos ambientais e paisagísticos. Pela sua beleza natural, são um destino alternativo inigualável, uma referência crescente no turismo de natureza e que se destaca das já habituais rotas do Mediterrâneo.

Actualmente, os Açores devem ser encarados como uma nova oportunidade e uma boa aposta no sector dos cruzeiros, uma vez que é essencial procurar novas rotas e destinos fora do Mediterrâneo que está num ponto de (quase) saturação. O Atlântico Oeste será naturalmente uma boa alternativa em termos geográficos por aproximação. Mas, para incluir os Açores nas escalas dos navios de cruzeiros e ir além das escalas de reposicionamento sazonal, que representam hoje a maioria dos movimentos nos Açores, é necessário apresentar melhores contrapartidas em termos de custos de operação para os navios e conseguir captar mercados emissores de turistas para embarcarem nos Açores.

A inclusão de um cais de cruzeiros dedicado na ilha de S. Miguel foi uma mais-valia para todos os que trabalham neste segmento de turismo porque um cais devoto à função facilita imenso a operação dos navios de cruzeiro. Além disso, a inclusão do terminal em Ponta Delgada, cidade com uma rara beleza e do ponto de vista do passageiro, com uma localização memorável, é efectivamente um grande passo, mas não pode ser o último.

Penso que o terminal das “Portas do Mar” é um terminal de referência em Portugal, bem pensado e estruturado. Segundo várias opiniões, que tenho assistido e com a própria utilização da MSC Cruzeiros, posso afirmar que é funcional e extremamente simples na circulação de passageiros. Destaco o conjunto (espaço multi-usos, marina, zonas comerciais, piscina pública, parque autocarros de excursões e subterrâneo e jardim com 10.000 m2 ao longo do passeio marítimo) que está muito bem conseguido, pelo que considero que o Arq. Manuel Salgado está de parabéns!

Mas neste momento, o arquipélago está a tentar conquistar as rotas das companhias de cruzeiros para turnarounds e penso que com 138 mil habitantes em São Miguel e quase 250 mil habitantes no total do arquipélago, os Açores podem ter uma palavra a dizer. No entanto, terá que se conquistar passageiros de outras origens e fazer uma forte pressão positiva nas próprias companhias de cruzeiros, impressionando com todas as ofertas que os Açores têm para os passageiros aquando das suas visitas.

Os desafios que os Açores enfrentam, debatem-se essencialmente com o traçar de novas rotas que sejam apetecíveis a nível de satisfação do potencial passageiro, mas que sejam também rotas comercialmente e operacionalmente viáveis para as companhias de cruzeiros. Com isso poderão ser ultrapassadas as dificuldades das operadoras realizarem escalas nos meses tradicionalmente menos frequentados na Região (Junho, Julho e Agosto), mantendo uma ocupação mais constante no Arquipélago.

Com o futuro crescimento do sector dos cruzeiros e com navios a realizarem turnaround nos Açores, as ligações aéreas para o arquipélago devem ser também incrementadas. Um benchmarking ao caso actual da ilha da Madeira com turistas alemães poderá ajudar a compreender o que os Açores têm que fazer. Na sua generalidade, o conceito fly & cruise tem estado activo em todo o mundo e, para já, não se prevê uma diminuição, antes pelo contrário. Existem muitos locais no mundo que para se conhecer, além de se efectuar um cruzeiro, tem que necessariamente utilizar o avião, como é o caso do Báltico ou dos Fiordes. Uma tendência nos próximos anos será a existência de mais portos de embarque dentro de cada país, numa tentativa de maior penetração nesse mercado e também da obtenção de novos mercados extra-Europa.

Além destas questões, considero também muito importante o envolvimento dos passageiros na região, por exemplo, com a animação típica à chegada dos navios de cruzeiros, pois a experiência pessoal do passageiro durante a estadia deverá ser o mais positiva possível e todos estes factores são mais-valias. É também importante envolver o mercado hoteleiro com os passageiros de cruzeiro, pois ao contrário do que inicialmente se possa pensar, os cruzeiros não são concorrenciais à hotelaria. Se a região despertar positivamente a atenção do passageiro de cruzeiro, vai haver uma grande apetência para voltar mais tarde para férias a essa cidade, pois só houve oportunidade de visitar um pouco da região durante a escala.

Os Açores têm que se basear nos seus trunfos intrínsecos para comunicar com os potenciais passageiros e com as companhias de cruzeiros. Há que explorar todas as mais-valias do arquipélago e encontrar novas formas de atrair turistas. Por exemplo, os cruzeiros temáticos podem eventualmente ajudar a dinamizar a divulgação dos Açores como destino. Dependendo das companhias de cruzeiros e da forma como encaram os cruzeiros temáticos na sua estratégia de marketing, estes são uma mais-valia para os passageiros, quanto bem fundamentados e com um bom itinerário, tema, número de noites, etc. A MSC Cruzeiros efectua diversos cruzeiros temáticos, essencialmente nos cruzeiros de posicionamento e cada país (já são 43 escritórios no mundo MSC Cruzeiros) poderá construir os seus próprios temas e cruzeiros. 
Perto de atingir as 100 escalas por ano e os 100 mil passageiros, o próximo desafio para o turismo de cruzeiros nos Açores é, sem dúvida, conseguir os primeiros cruzeiros turnaround e torná-los na melhor experiência que os passageiros Açorianos e não Açorianos alguma vez tiveram na sua vida."

3 comentários:

Anónimo disse...

Em alguns aspectos concordo, embora esperava mais da MSC nos Açores. Uma escala por ano é muito pouco enquanto que na Madeira são dezenas. Seria interessante se a MSC passasse das palavras aos actos.

FranciscoM disse...

Nem sei sequer se a MSC estará cá em 2012. Contudo não sei como é que a MSC pode fazer mais escalas nos Açores. Os seus navios apenas conseguem escalar S.Miguel. Os transatlânticos por aqui n passam. Fazer cruzeiros Açores/Canárias com apenas 1 ilha açoriana n faz sentido. Volto a repetir, o sucesso para os cruzeiros nos Açores será sempre escalas em várias ilhas de Verão. Para isso faltam infrastruturas e empresas de renome interessadas e não algumas empresas de sustentabilidade duvidosa ( Polar Star, CMV, CIC )
A única empresa que se aproxima é a HLKF e o resultado está à vista. O cruzeiro esgotou 1 ano antes e o 2º já está 50% vendido. Acredito plenamente que se um empresa como a AIDA ou a Thomson fizessem cruzeiros de Verão aos Açores escalando + do que 4 ilhas, seria um
obvio sucesso. Face a isto penso que empresas como a MSC, terão sempre dificuldade em escalar os Açores fora dos transatlânticos

Bruno Rodrigues disse...

É efectivamente uma opinião muito optimista a do Director da MSC Cruzeiros. Demasiado optimista, na minha opinião. Estou de acordo com aquilo que foi dito pelo FranciscoM.

Talvez no futuro, com o novo Cais Norte da Horta pronto, a MSC possa arriscar-se a testar um cruzeiro Atlântico com duas escalas nos Açores (Ponta Delgada e Horta). À partida (e em teoria...) os navios MSC da classe Mistral (com 250 metros de comprimentos e calado de 6,6 metros) terão condições de atracagem na Horta.

Tenho ouvido falar na questão de haver ou não condições para efectuar excursões na Horta para 50% (média dos passageiros que efectuam excursões) dos passageiros (navios com capacidade máxima de 2200 e normal de 1800 passageiros). Penso que isto é uma falsa questão: nunca ouvi queixas da Holland America Line, que já esteve na Horta várias vezes com navios de capacidade ligeiramente superior a estes mencionados da MSC (Noordam, Westerdam, em 2012 Nieuw Amsterdam)nem da P&O (Oriana, Oceana). Novamente, penso que isto é uma falsa questão, trata-se de organização (nem que para isso dêem a possibilidade aos passageiros de efectuarem excursões também ao Pico, por exemplo, distribuindo melhor o caudal de turistas). Espero mesmo que o novo cais da Horta tenha no mínimo (e deveria ter mais...) os tais 8 metros de profundidade.

Estou mais de acordo com a opinião do Sr. Chris Ashcroft (que irá aparecer de seguida no blogue). Mais realista e incisivo: é muito importante agarrar-nos aquilo que já temos (uma grande percentagem das escalas de viagens transatlânticas).

Cumprimentos,