quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Gualter Dâmaso (Açortravel) em entrevista ao Açoriano Oriental

Fonte: Açoriano Oriental
Jornalista: Pedro Nunes Lagarto
9 Dezembro 2011


Nos Açores quem procura os cruzeiros? Há um perfil tipo? 
Não se pode falar num perfil tipo quer em termos de escalão etário quer a nível social. Tenho tido a oportunidade de verificar isto bem de perto com o cruzeiro que escala Ponta Delgada. 

Quais os destinos preferidos? 
Europa porque é mais perto e barato, mas também porque oferece mais do que praias e sol. Há hoje uma grande procura das viagens culturais, das cidades históricas onde se possa ver o património nas várias paragens “relegando” o sol e o lazer para bordo. 

A maioria desloca-se a Espanha para embarcar, não é assim? 
Os cruzeiros que páram em Ponta Delgada são os chamados cruzeiros de reposicionamento, isto é, saem na época de Inverno dos Estados Unidos e chegam aqui no início da época de Verão (a partir de Abril). Isto só acontece uma vez por ano pelo que a maioria dos açorianos tem que ir de avião para Lisboa e depois, regra geral, até Barcelona, o sítio mais perto para se apanhar um cruzeiro. De qualquer modo, em 2012 vai haver muitos mais cruzeiros com partida e regresso a Lisboa, o que é mais barato e cómodo para nós porque se prescinde de uma ligação aérea. 


O que é que uma pessoa deve saber para evitar surpresas desagradáveis a bordo como, por exemplo, taxas adicionais? 
Já no século XVI se considerava que “Viajar é Cultura”, um investimento de que se deve tirar o máximo proveito. Nesta lógica aconselho o cliente a reflectir sobre o tipo de destino que pretende. Depois o tempo que dispõe para viajar. Segue-se o navio e o serviço pois há conceitos diferentes. E há o orçamento: neste particular, o núcleo do cruzeiro, que é a alimentação, está pago. Costumo dizer que um indivíduo pode estar a bordo e se não quiser não gasta mais do que o pacote inicial, o que é mais difícil de fazer numas férias tradicionais onde factores como a alimentação, transportes e entretenimento estão quase sempre sujeitos a imprevistos. Por exemplo, o restaurante é mais caro do que se esperava, começa a chover e há que apanhar um táxi que não estava previsto, o bilhete do teatro afinal é mais caro, e por aí a fora. Ora, a bordo está tudo incluído. No cruzeiro há, no entanto, que contar com a taxa de serviço que uma pessoa não se pode recusar a pagar. É um conceito importado dos Estados Unidos em que os utentes se mostram dispostos a reconhecer e a gratificar o serviço, algo que está a ser aplicado na Europa. Portanto, não se trata de uma gorjeta, que é facultativa, mas uma taxa de serviço. Posso dizer-lhe que num cruzeiro de 1250 euros essa taxa pode acrescer em 110 euros por pessoa (mas isso vem no pacote). 


Que outros conselhos para quem viaja pela primeira vez? 
Costumo dizer que uma pessoa pode realizar um cruzeiro com uma perna em gesso e vai divertir-se bastante, mas se for dada a enjoos é necessário ter cautela, apesar de serem fornecidas uma pulseira e um penso, que se coloca atrás da orelha, que têm produzido excelentes resultados.Para além do mar, deve-se escolher o tipo de camarote - interior ou com varanda (mais caro) -e ter presente que as bebidas a bordo custam 5 euros embora o seu consumo não seja obrigatório. Ou seja, pode-se estar a noite toda a ouvir música e a dançar sem o mínimo de consumo e de constrangimento. No campo da saúde a agência de viagens assume o seguro. Dentro do navio a assistência é excepcional, com mais do que um médico. Se detectado algum problema que não possa ser resolvido a bordo a pessoa é desembarcada logo no primeiro porto e encaminhada para o hospital mais próximo. São extremamente rigorosos a bordo sobretudo com doenças que possam originar contágio. A indústria de cruzeiros tem apresentado um crescimento consolidado em todo o mundo, com particular destaque para a Europa. 


Qual tem sido o segredo para crescer de forma sustentada mesmo em tempo de crise? 
O preço e a relação custo/qualidade. Um exemplo: um cruzeiro saindo de Lisboa para o Brasil, que são 14 noites, aquilo que a companhia recebe por cada passageiro, exceptuando as taxas portuárias, são 30 euros por dia para uma ligação de Lisboa até Santos, e isto para pagar uma pensão “duplamente” completa - come-se quando se quiser e quantas vezes se quiser e se não gosta muda de prato, com espectáculos internacionais, ginásio, piscina, atendimento personalizado, entre tantas outras coisas. Portanto, as pessoas começaram a fazer contas e perceberam que não há maneira mais barata de viajar. Por outro lado, estamos a falar do factor comodidade: várias noites e destinos sem ter que se desfazer a mala.Há também o convívio a bordo. Fazem-se amizades incríveis. As pessoas procuram contactar umas com as outras. Num hotel em terra não se convive com ninguém. Num hotel flutuante é diferente. 

Alguns dos principais destinos turísticos do mundo têm sido alvo de perturbações sociais graves. Acredita que o factor “Segurança” pode contribuir para uma transferência do público para os cruzeiros? 
Os navios são muito seguros mas há um factor curioso: as pessoas estão a fugir do avião. Não tem que ver com a segurança, mas com a falta de comodidade. Repare: eu nasci nos pós guerra onde as companhias eram florescentes e o serviço “mítico”. Ainda fui servido, a bordo da classe económica, com as hospedeiras a ajoelharem-se para encher o copo de vinho. Hoje é aborrecido, incómodo e frustrante viajar de avião. Começa com as greves, os atrasos constantes, as inspecções nos aeroportos, segue-se as cadeiras que mal dão para esticar as pernas, as tais refeições, bem, a nível de comodidades não há comparações com o serviço a bordo de um cruzeiro. E depois as pessoas já não querem estar mais de três a quatro horas fechadas num avião.

Sem comentários: